Dos jardins italianos às ruas de Tóquio
Um passeio por estilos de vida, movimentos visuais e referências que refletem nossos desejos mais atuais.
Já parou pra pensar que todo ano tem um país em evidência? Seja nas séries que mais aparecem, no cenário musical e nas publicidades de agências de viagens? Tivemos um período bem focado em França, depois a Itália chegou (não a toa Emily in Paris foi visitar Roma). E com isso as aesthetics vão se tornando virais nas redes sociais, como a fase italian core, onde vemos muitos vestidos floridos, cabelos mais bagunçados e naturais, blush em evidência, e termos como tomato girl core começam a surgir.
Essas estéticas se manifestam por todo lado, tendo em vista que até marcas de luxo lançam produtos que bebem dessas inspirações, assim como a tomato clutch bag desenvolvida por Jonathan Anderson para a Loewe, uma bolsa em formato de tomate.
A Itália ainda vai estar em alta por bastante tempo, principalmente pelo estilo de vida que vai de encontro com os contrastes que buscamos. Estamos passando por um momento que recebemos diariamente notícias de guerras, vemos também vídeos e artigos que apresentam estatísticas de burnouts e outros problemas decorrentes de uma supervalorização da exaustão. É natural que nossa mente busque refúgio em uma idealização de vida tranquila. E vou ser sincera, a Itália não é perfeita, mas o pensamento aqui sobre ter uma vida mais equilibrada faz muita diferença na qualidade de vida.
Ainda assim, tem outro país chegando com força nas buscas por viagens, nas vitrines, na gastronomia e, claro, no design. O Japão aparece cada vez mais forte como destino de influencers, referência para novas coleções de moda, inspiração para restaurantes. E o que mais gosto desse momento são os contrastes que ele traz.



De um lado, há o minimalismo, a pureza dos materiais naturais, o essencial. E de forma oposta vemos o street style japonês, com modelagens assimétricas, estampas maximalistas, elementos surpresa que levam estranheza ao primeiro olhar. Temos a busca por equilíbrio e saúde como pilar (vide o quanto bebidas como o matcha viralizaram nos últimos meses, inclusive estou aqui bebendo um matcha latte refrescante enquanto escrevo pra vocês). Mas ao mesmo tempo, em contraste ao natural, temos muita tecnologia relacionada ao país, sendo referência em robótica e o berço de conceitos como o kaizen (melhoria contínua), que se tornou um pilar das fábricas e empresas japonesas, contribuindo para inovações em automação, robótica e controle de qualidade.
Esses contrastes — entre o natural e o tecnológico, o mínimo e o exagerado — são o que mais me fascinam no design atual. Eles aparecem na moda, na arquitetura, no gráfico. Estão por toda parte, e dizem muito sobre o tempo que vivemos. Podemos ver instalações como a Gucci | Bamboo Encounters, que ocorreu na Fuori Salone, onde o uso do Bambu foi evidenciado, como um respiro em meio ao movimento de Milão. Pra além das peças de design apresentadas, chamou atenção as pipas que estavam instaladas em jardins, e de forma sutil, pareciam ter o poder de desconectar nossa mente por alguns instantes pra contemplar a dança que faziam no vento.



Como contraponto, vemos no street style asiático traços que se apresentam também em diversas peças, como sobreposições de texturas e estampas, paletas de cores não convencionais, mescla entre tradição e cultura urbana. Esses são alguns pontos que podemos encontrar em muitas peças de design contemporâneas, nem sempre com inspiração evidentemente asiática, mas que são reflexo dessa estética em evidência.
A beleza é subjetiva, mas existem pontos que são determinantes pra que uma peça seja atrativa visualmente. Isso pode ser resultado de simetria, harmonia entre cores e proporções. Mas existe um outro conceito que eu sou apaixonada: o elemento surpresa. Existe até uma teoria que gira pela internet falando do vermelho inesperado, onde em meio uma paleta neutra, algo em vermelho chama atenção como elemento surpresa. O inusitado chama o olhar, e quando bem executado, se torna protagonista. Treinando nosso olhar, é possível criar e admirar peças que tem um efeito contrastante, pra alguns causam estranheza.. pra outros, uma descoberta.
Em meio a tantas tendências lançadas pra serem copiadas, pensar no inusitado é um bom ponto de partida, seja pra criar ou fazer escolhas. Pra te inspirar, trouxe minha curadoria de algumas peças:




A coleção Materialidades, do artista Jean Tomedi para Tapeçaria Italiana, traduz em tapetes a conexão entre arte, artesanato e emoção
Luminária de chão Huê - Por Olar Design, disponível na Boobam
Yayoi Kusama - Não se trata de um produto, mas da experiência imersiva que as exposições da artista proporcionam — como a que está no Inhotim. Uma fonte rica de inspiração para quem busca contraste entre cor, forma e emoção no design
Greta Coutinho - A artista traz cores vibrantes em suas obras, o que pode se transformar no elemento protagonista dos ambientes